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Sobre vícios e virtudes

  • Foto do escritor: Vitor Santiago Borges
    Vitor Santiago Borges
  • 1 de set.
  • 4 min de leitura

Nós não testemunhamos o nosso próprio nascimento. Desde que nascemos nos movemos em zonas sombrias e inconscientes, marcadas por sensações e afetos, mas carentes de compreensões. A infância é um período tipicamente afetivo e sensitivo. Sensações e afetos se misturam caoticamente em nossas experiências. Há, contudo, uma motivação central, algo que já está sendo movido e mobilizado no início da infância: o sentimento de valor pessoal, a necessidade do eu em ser valorizado e validado.

Essa motivação, tipicamente inconsciente, diria que instintiva, move a criança a buscar no outro o seu próprio valor. O valor do eu começa no olhar do outro, mas não pode se fixar nisso. Assim, são dois os polos que atraem o ser humano, dotado de afetos, vontade e inteligência, com capacidade de compreensão porque é sapiens: o polo da realidade e o polo do ego. E são duas as tendências ou inclinações: despertar aos poucos para a realidade ou se fixar no próprio eu. No primeiro caso encontramos o que podemos chamar de espiritualidade; no segundo caso, egocentrismo.

Nossa primeira idade mental é tipicamente afetiva; fazemos muitas escolhas irrefletidas, sem pensar, apenas por atração, sem saber sequer por que somos atraídos para certas experiências. À medida em que amadurecemos, começamos a nos inclinar mais para a razão. Aprendemos a refletir melhor nossas escolhas, a calcular com mais prudência o custo-benefício delas. Nos tornamos menos sonhadores e mais realistas. E é aqui que entra nosso interesse já amadurecido pela realidade. Passamos a entender que precisamos nos adaptar a ela e não ela a nós. Compreendemos melhor a famosa frase do psicoterapeuta e psiquiatra vienense Viktor Frankl: “Não se trata do que você espera da vida; se trata do que a vida espera de você”.  

A realidade e não os nossos desejos passa a ser a prioridade de um desenvolvimento humano que amadureceu, e quando entendemos a importância de nos instalarmos nela começamos a desenvolver as chamadas virtudes fundamentais. Virtude vem do latim virtus e significa força, excelência.

O indivíduo virtuoso é um amante da realidade e, segundo os grandes filósofos do passado como Sócrates, Platão e Aristóteles, esse amor é, acima de tudo filosófico, um verdadeiro amor pela sabedoria. É interessante observarmos que a palavra sabor está vinculada etimologicamente à palavra saber. O homem saboroso é aquele que aprendeu a amar o saber, porque compreendeu que sabendo se realiza, se torna aquilo que a vida espera dele, se torna, aos poucos, sapiens. Portanto, o interesse pela realidade acima do eu, nos tira daquela posição infantil em que queremos ser vistos e validados pelos outros, para melhor ver e compreender os outros e a vida que se manifesta de modo rico e contínuo na realidade. Podemos entender, do ponto de vista psicológico, a espiritualidade como o ato de ver, de obter compreensão, fortalecendo assim a consciência. O espírito (centro, núcleo da minha identidade humana) é atualizado por um novo ato de compreensão.

Todo ser humano é movido por três motores, três motivações: seus apetites e afetos, sua vontade, e sua inteligência.

Platão compreendeu que os apetites estariam localizados no ser humano no baixo ventre, entre o estômago e a genitália, o prazer de comer e copular, a parte instintiva e necessária do homem, para mantê-lo na vida e perpetuar a espécie. A vontade teria sua localização no

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coração, acima do baixo ventre. E acima da vontade a inteligência, a motivação superior do homem, capaz de realizá-lo plenamente. Um indivíduo virtuoso obedece a sua motivação superior, sendo movido pela inteligência e por meio dela, para um amor genuíno pela realidade. Guiado pela inteligência e governando seus apetites se torna um indivíduo excelente, realizado, porque elegeu para si, por meio de sua abertura e conexão, uma fidelidade à realidade.

Estar com a ciência é uma posição tipicamente virtuosa; estar com a pulsão, com os impulsos, é uma posição tipicamente viciosa. Pela consciência nos atualizamos e nos transformamos, adquirindo uma forma e coerência interior cada vez mais bela, integrada e proporcional. Dominados pelas pulsões e apetites nos tornamos compulsivos, vazios de sentido existencial, incapazes de autodomínio e autogestão de nossos impulsos e emoções. Nesse segundo caso, andamos em círculos repetindo padrões à exaustão, até a depressão. Uma sensação de irrealização predomina e tentamos sair dela pela gratificação da compulsão que nos prende mais ainda a ela. É como tentarmos matar a nossa sede bebendo água salgada, ficando cada vez mais drenados e desidratados no plano psicológico.

Mas o maior de todos os vícios é o egoísmo, o egocentrismo e finalmente, o narcisismo. É o maior dos vícios por manter a pessoa obcecada em relação ao valor do próprio eu e sem qualquer contato com a realidade. O virtuoso quer o que compreende; mas o egoísta e narcisista, compreende apenas o que quer. O egoísta, e consequentemente o narcisista é, acima de tudo, a criança que se negou a crescer. Entre os vícios e as virtudes cada indivíduo manifesta sua atitude fundamental diante da vida, podendo definir-se plenamente ou malograr definitivamente.

                                               Vitor Santiago Borges

 
 
 

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