Você sabe quais são os reais riscos de jogos de azar como o jogo do tigrinho?
Jogos como o jogo do tigrinho ou aviãozinho são considerados jogos de azar. Vale lembrar que azar é um tipo de “acaso negativo”. Isso porque esses jogos envolvem empenhar um bem ou um valor financeiro na previsão de um evento futuro.
Os primeiros relatos de jogos de azar no Brasil datam de 1784 e desde essa época o jogo alternou fases de aceitação e legalização com outras de repúdio e proibição.
Com o avanço tecnológico, surgiu uma modalidade online de casa de apostas, as “bets”, que fazem com que os jogos de azar estejam cada vez mais acessíveis nas casas brasileiras, fato que tem causado prejuízos financeiros evidentes nos últimos anos.
A Lei 14790/23 foi o primeiro passo no sentido de regulamentar essa prática, a fim de que seja mais “saudável”. Ela orienta a proibição do jogo para crianças e adolescentes, permite pagamentos apenas em pix ou débito, além de desvincular a prática do jogo a uma possibilidade de ascensão financeira.
Entre os tipos de jogos de azar temos:
• Jogos de mesa: blackjack, roleta e poker;
• Caça níqueis: slots tradicionais e slots de vídeo;
• Apostas esportivas: futebol e corrida de cavalo;
• Loterias: loteria nacional e raspadinhas
• Casa de apostas esportivas online (bets): jogo do aviãozinho, tigrinho
Em relação à frequencia de apostas, no Brasil estima-se que 12% da população realiza apostas regularmente ( uma vez no mês) e 1% da população prenche critérios para o jogo patológico.
A etiologia do transtorno de jogo é multifatorial, ou seja, há a interação entre fatores biológicos e psicológicos. Entre os fatores de risco associados ao envolvimento em jogos temos: sexo masculino, alta impulsividade e estilo emocional baseado em raiva e estresse.
Anatomicamente, há o envolvimento de vias cerebrais que regulam a neurotransmissão de dopamina e o sistema de recompensa cerebral, denominado de nucleus accumbens. Quando há uma experiência positiva, geralmente com ganho de dinheiro, há a liberação de dopamina nesse centro do prazer, gerando uma euforia inicial. O cérebro então associa essa sensação com o jogo, fazendo você jogar mais.
Entretanto, essa fase de experiências positivas com o jogo é seguida pela fase de perdas (em que os prejuízos financeiros se tornam evidentes). Há a tentativa de jogar para tentar recuperar o dinheiro perdido, e aquela euforia inicial não é mais sentida, estabelecendo um estado chamado “tolerância”. Para conseguir sentir sintomas euforicos novamente os jogadores tendem a aumentar o valor e a frequência das apostas.
O jogador vai então acumulando dívidas, pedindo empréstimos e entra em uma fase chamada de “desespero”. Nessa fase ocorre ruptura dos laços sociais (pelo abandono da família ou pela perda do emprego) e pode chegar ao ponto de ocorrer a comportamentos suicidas, tamanho é o desespero.
Todo esse processo cíclico se assemelha muito ao vício por outros fatores, como por exemplo o vício em cocaína.
Agora, que fique a reflexão: será que as pequenas intervenções que estão sendo feitas nesse momento seriam mesmo capazes de prevenir que os apostadores das bets não desenvolvam um jogar doentio?
O que vamos colher no futuro diante dessa disponibilidade de jogos de azar legalizados no Brasil?
Texto por dra Isadora Gondim
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