
Dependência de internet – um novo transtorno do século XXI?
Com as novas tecnologias, a internet revolucionou nossas vidas à medida que foi se integrando às nossas experiências diárias. Com o passar do tempo, ela se tornou mais acessível e cada vez com mais recursos de imagem e vídeo que possibilitam a conexão de pessoas ao redor do mundo. O surgimento do smartphone foi um divisor de águas no sentido de tornar essa tecnologia acessível na palma da sua mão, 24 horas por dia, 7 dias na semana.
Para se ter uma ideia, em 1995 apenas 1 % da população tinha acesso a internet, hoje, mais de 53% da população mundial está conectada.
Apesar dos efeitos benéficos na comunicação, a internet tem sido associada a uma dependência comportamental que merece ser evidenciada.
De acordo com o manual de diagnóstico DSM-5, a dependência da internet é classificada como um transtorno do controle do impulso. Os critérios de diagnóstico incluem:
• Preocupação excessiva com a internet.
• Necessidade de aumentar a quantidade de tempo gasto na internet para obter satisfação.
• Falha em controlar ou interromper o uso da internet.
• Sintomas de abstinência quando o acesso à internet é reduzido ou interrompido.
• Uso da internet para escapar de problemas ou aliviar sentimentos negativos.
• Prejuízos significativos na vida pessoal, social, educacional ou ocupacional.
• Continuação do uso da internet apesar dos problemas que ela causa.
• Mentiras para ocultar o uso excessivo da internet.
Entre os fatores de risco para o uso abusivo da internet temos alta impulsividade, busca de novas sensações, autoestima baixa, intolerância a estímulos desprazerosos, relações sociais restritas e relações familiares inadequadas.
Alguns modelos neuropsicológicos estão sendo feitos para tentar explicar esse transtorno. Segundo a teoria, o indivíduo teria um “impulso primitivo” que busca primordialmente o prazer e evita sensações desprazerosas. E então, mediante o uso da internet e a partir do consumo de vídeos, imagens ou jogos, surge uma experiência de euforia. Dessa forma, há o uso repetido com o intuito de sentir novamente essa experiência. Com o passar do tempo há o desenvolvimento de uma tolerância (necessitando de mais horas online para obter os mesmos efeitos eufóricos) e também há o desenvolvimento de sintomas de abstinência (ansiedade, mal estar) quando não está online.
O indivíduo então passa a ter um processo disfuncional de enfrentamento em que cada vez mais irá se refugiar na internet.
Apesar de ser um transtorno relativamente recente na sociedade, ele possui tratamento visando restaurar a qualidade de vida do adoecido. A associação de terapias comportamentais associadas ao tratamento medicamentoso pode ajudar o indivíduo a retomar o controle de sua vida.
Nenhum tratamento é “milagroso”, é enfrentar o vício em algo tão disponível vai exigir bastante esforço e mudanças comportamentais.
Referência: TAVARES, H. Psiquiatria, saúde mental e a clínica da impulsividade. 2ª edição. São Paulo: Manole, 2022.
(Texto por dra Isadora Gondim)
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