“Meu rosto vermelho e molhado
É só dos olhos pra fora
Todo mundo sabe que homem não chora”
Composição: Alvin L / Frejat
A expressão popular "homem não chora" reflete uma expectativa social antiga e rígida, enraizada na ideia de que a masculinidade deve ser sinônimo de força, controle e invulnerabilidade emocional. Essa cultura, perpetuada ao longo dos anos, tem levado muitos homens a sufocar seus sentimentos e evitar buscar ajuda quando enfrentam dificuldades emocionais.
Embora apenas 20% dos pacientes que procuram serviços de saúde mental sejam homens, uma estatística alarmante revela que 80% dos suicídios são cometidos por homens. Esta disparidade sugere uma crise silenciosa, onde a masculinidade tradicional impede muitos de reconhecerem e tratarem seus problemas de saúde mental.
A pressão para manter uma fachada de dureza e invulnerabilidade pode resultar em explosões de comportamento agressivo ou autodestrutivo, tornando a situação ainda mais grave. Em vez de encontrar formas saudáveis de lidar com suas emoções, muitos homens acabam internalizando o sofrimento, o que pode levar a consequências trágicas.
Além disso, mitos persistentes sobre os efeitos dos tratamentos de saúde mental agravam ainda mais essa situação. A crença de que todos os medicamentos psiquiátricos causam impotência sexual é um dos principais obstáculos que impedem os homens de buscarem ajuda. Esta desinformação não só desencoraja o tratamento adequado, mas também perpetua o estigma associado à saúde mental masculina.
É crucial desmantelar esses mitos e promover uma cultura de apoio e compreensão. Homens devem ser encorajados a expressar suas emoções sem medo de julgamento e a buscar ajuda quando necessário. O choro não é um sinal de fraqueza, mas uma expressão natural da condição humana.
Reconhecer e valorizar a vulnerabilidade pode ser o primeiro passo para uma saúde mental mais robusta e uma vida mais plena para todos. Homens que choram, que se permitem sentir e buscar ajuda, não são menos homens por isso. Eles são, na verdade, exemplos de verdadeira coragem e força.
Texto por Dr Fabrício Abadia
CRM 27040
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